Quem foi Machado de Assis?


Machado de Assis é considerado o maior escritor negro de todos os tempos. Sua escrita é base de estudos até hoje, por sua originalidade, astúcia e persuasão.

Por: Bruno Reis

30.06.2022

Vida pessoal


Joaquim Maria Machado de Assis nasceu no Morro do Livramento, Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1839. Seu pai era filho de escravos e sua mãe, portuguesa. O que muitos não sabem é que Machado era negro e tinha uma irmã gêmea que faleceu com quatro anos de idade.


Por vir de família pobre, Machado teve sorte de ter pais que sabiam ler e escrever. Isso ajudou Machado a se interessar por literatura e ter vontade de estudar. Ele aprendeu francês com um padeiro imigrante e latim com seu amigo, o Padre Silveira Sarmento. O Morro do Livramento, onde Machado viveu sua infância, era um ponto de encontro religioso e isso fez com que ele tivesse grande convivência com o catolicismo.


Seu primeiro trabalho foi como aprendiz de tipógrafo, na Tipografia Nacional, em 1856. Depois disso, trabalhou em vários jornais como repórter, jornalista, cronista e revisor. Em 1867, foi nomeado diretor-assistente do Diário Oficial por D. Pedro II, que, mais tarde, em 1988, também o reconheceu como oficial da Ordem da Rosa, título nacional de muita importância da época.

Pintura de Dom Pedro II, último monarca do Brasil.

Insígnias da Ordem da Rosa: níveis Cavaleiro, Oficial, Comendador e Dignitário.

Na vida amorosa, Machado apaixonou-se pela portuguesa Carolina Augusta Xavier de Novais, que era irmã do seu amigo, Faustino Xavier de Novaes. Mesmo com os irmãos de Carolina (Miguel e Adelaide) não concordando com que ela se envolvesse com ele por ser negro, os dois casaram-se em 12 de Novembro de 1869.


Carolina era uma mulher culta que conhecia os grandes clássicos da literatura portuguesa. Segundo sua sobrinha-bisneta, Ruth Leitão de Carvalho Lima, Carolina frequentemente retificava os textos do marido quando ele estava ausente. Por conta disso, alguns estudiosos a reconhecem como sendo de suma importância para o grande sucesso das obras machadianas.


O casal não teve filhos, mas tinha uma cadela que era tratada como tal. Da raça Bichon Frisé, ela se chamava Graziela. Os dois viveram juntos por mais de trinta e cinco anos.


Um fato que marcou a vida de Machado e Carolina, foi quando alguns amigos desconfiaram de que o escritor estaria traindo a esposa e resolveram segui-lo. Foi quando descobriram que Machado estava apaixonado pelo quadro “A Dama do Livro” (1882), de Roberto Fontana e ia visitá-lo todas as tardes. Como ele não tinha dinheiro para comprá-lo, os amigos se reuniram e deram-no de presente.

“A Dama do Livro” (1882), de Roberto Fontana, quadro que Machado de Assis era apaixonado.

Machado também era conhecido como o Bruxo do Cosme Velho pois morou na Rua Cosme Velho desde 1883 até a sua morte e, foi visto por vizinhos queimando cartas em um caldeirão. Por causa disso, Carlos Drummond de Andrade escreveu o poema em homenagem a Machado: "A um bruxo, com amor".


Machado de Assis foi um dos responsáveis pela fundação da Academia Brasileira de Letras, em 1897. Ele também foi o primeiro presidente da instituição considerada uma das mais importantes para a literatura brasileira até os dias de hoje.


Com a morte da esposa, em 1904, Machado ficou muito abalado e entrou em depressão profunda. Conforme carta endereçada ao amigo Joaquim Nabuco, o grande escritor escreveu: "foi-se a melhor parte da minha vida, e aqui estou só no mundo [...]". Depois disso, foi adoecendo cada vez mais, até sua morte, em 1908, aos 69 anos de idade.

Estátua feita em homenagem a Machado de Assis, em frente a sede da Academia Brasileira de Letras.

Influência literária


Em 1855, publicou seu primeiro poema, “Ela”, após tornar-se colaborador do jornal Marmota Fluminense.


Sua carreira literária é dividida em duas fases: a primeira ligada ao romantismo (ou ao convencionalismo) e a segunda, ligada ao realismo. Ele é responsável por iniciar o realismo no Brasil.


Os romances que marcaram a primeira fase machadiana foram: “Ressurreição” (1872), “A Mão e a Luva” (1874), “Helena” (1876) e “Iaiá Garcia” (1878). Já a segunda fase, foi marcada pelas obras: ”Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881), “Quincas Borba” (1891), “Dom Casmurro” (1899), “Esaú e Jacó” (1904) e “Memorial de Aires” (1908).

Acima, capas dos principais livros de Machado de Assis, editora Martin Claret, edição de bolso, 2021.

A extensa obra machadiana é formada por 10 romances, 205 contos, 10 peças teatrais, 5 coletâneas de poemas e sonetos, e mais de 600 crônicas.


Machado utilizou de seus textos para criticar a sociedade em que viveu. Suas obras refletiam sobre os problemas sociais ligados à burguesia, à escravidão, ao sistema capitalista, às relações em torno do casamento, entre outros.


O autor teve influência positiva na política brasileira através do seu legado literário. Uma das características mais apreciadas pelos leitores é a ironia envolta de seus escritos, considerada por muitos teóricos como a “arma mais corrosiva da crítica machadiana”.


Outra atuação importante de Machado foi nos estudos da psicanálise, antes mesmo de grandes estudiosos, como Freud. O escritor foi pioneiro em analisar a alma e a mente humana fora do contexto coletivo.


Enfim, Machado ultrapassou os limites nacionais e teve influência mundial. Com o livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, transformou-se num escritor universal. Até hoje, Machado é visto como um autor sem precedentes e de complexidade e estrutura textual única, inspirando autores de tempos e lugares distintos.

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